terça-feira, 22 de abril de 2008

Profissão de fé ou profissional da fé?

Pediram-me para falar da profissão de fé aos pais dos miúdos da catequese. Uma cerimónia para os filhos que ao longo deste ano têm feito um percurso notável, não só a nível da catequese como a nível das relações e do crescimento humano. Gosto muito deles. “Brinquei” intencionalmente com as palavras para falar daquela, que me parece ser a grande tentação dos cristãos: ser-se um profissional da fé. E expliquei-me. Um (bom) profissional é aquele que obedece e cumpre vários parâmetros ligados ao cargo que desempenha e no final do dia, marca responsavelmente e exemplarmente um “visto” em todas as alíneas que lhes são exigidas, enquanto profissional. Com esta imagem, acrescentei que não parece ser este o caminho na relação com Deus. A profissão de fé, é um compromisso sincero e responsável (é verdade), mas que ultrapassa o mero cumprimento de exigências estipuladas pela Igreja ou por uma comunidade. Pessoalmente, o cristão aponta mais para a linha do artesão (aquele que desenvolve uma relação afectiva com aquilo que faz, ainda não saia um resultado maquinalmente exemplar) do que para a linha do industrial (onde se criam peças e estruturas sem mácula). É que a perfeição que Deus nos pede não é a do perfeccionismo.De facto, é esta também a minha tentação de me apresentar profissional diante de Deus e isso alivia-me a consciência. Mas seguramente que a tranquilidade de uma consciência (aliviada) do dever cumprido não é o mesmo que a paz interior. É outra coisa. E por estas e por outras, o cristão não sabe o que fazer com o pecado e com o fracasso. Não foi educado para e eles e portanto, corre o risco, de viver do medo. E sente-se desapreciado com a derrota que bate à porta e infeliz por se experimentar pecador. Curiosamente, que o cristão profissional da fé vive com medo de fazer o mal e não com o desejo de fazer o bem. Julgo que valia a pena educar as pessoas para o fracasso. Acho eu.


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