sexta-feira, 30 de maio de 2008

A fé não pede nem que destruamos, nem que exaltemos o desejo humano, mas que o unamos a um desejo maior: a sede de Deus.

Do livro do irmão Roger, de Taizé:
Em você a paz do coração - Meditações para cada dia do ano

7 comentários:

Alma peregrina disse...

Na verdade, o desejo humano é o desejo divino. Deus criou o Homem à Sua imagem e semelhança (Gn 1:27). Isto significa que a vontade humana também é imagem e semelhança da de Deus.

A questão é que o Homem também foi criado livre. E, na sua liberdade, o Homem quis (desejou) ser igual a Deus. Grande tolice! O Homem já era igual a Deus, porque Deus o tinha criado à Sua imagem e semelhança. Mas o Homem caiu no erro (e persistirá sempre nesse erro), de considerar igualdade a Deus uma igualdade de Poder!

No entanto, se, numa reviravolta irónica do destino, o Homem tivesse, de facto, ascendido ao lugar de Deus e destronado o Seu Pai... será que o Homem seria igual a Deus?

Não.

Deus também era livre. Não precisava do Homem para nada. Podia ter criado o mundo para Seu gozo privado. E podia ter criado, no lugar do Homem, uma raça de autómatos "zombieficados" que Lhe obedecessem cegamente.

Mas Ele não quis isso. Ele é nosso Pai. Ele é Amor (1 Jo 4:16). Por isso, Ele quis criar-nos como filhos e não como servos. Quis amar-nos e esse é o desejo de Deus.

Se o Homem fosse Deus, o que sucederia? Tendo em vista que o Homem apenas poderia adoptar esse estádio negando Deus, podemos ter uma resposta aproximada observando o comportamento dos homens-deuses da nossa história:
Nabucudonosor, Alexandre Magno, Júlio César, Átila o Huno, Genghis-Khan, Luis XIV, Robespierre, Napoleão Bonaparte, Hitler, Estaline...

São estes super-homens (segundo a doutrina de Nietzsche) imagem e semelhança de Deus? São eles Amor? Não! Graças a Deus que eles não são Deus!

No entanto, neste delírio ambicioso do Homem (em que este queria substituir Deus), pareceu gerar-se um novo "desejo humano". E esse "desejo humano" seria antagonista do "desejo de Deus".

Só que isso não cola. A Humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus. Consequentemente, se o Homem negou Deus, negou a sua própria Humanidade. Um desejo que se opõe a Deus não pode, por definição, ser um "desejo humano".

Quando Deus encarna no Homem, tornando-Se Jesus, Ele está a guiar-nos de volta para a nossa Humanidade perdida. Se repararmos bem, o Evangelho mais não é que a história da comunhão de vontades entre Jesus e o Pai.

"O Filho de Deus tornou-se homem para que nós pudéssemos ser como Deus"
S. Ambrósio

"O Filho Unigénito de Deus, querendo partilhar a Sua divindade connosco, assumiu outra natureza, para que Ele, feito homem, pudesse tornar os homens deuses"
S. Tomás de Aquino


Está no Pai Nosso: "Seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no Céu". Até na agonia do Getsemani (Lc 22:49) se manifesta esta união entre o desejo humano e o desejo divino.

Se o desejo de Jesus é o desejo de Deus, então o desejo humano é o desejo divino. Porque Jesus é o paradigma de toda a Humanidade.

E, do alto da Cruz, Jesus mostra a glória do Verdadeiro Rei. Aquele que não subjuga, mas que Se dá por Amor.

Ainda assim, há muita gente continua a cometer o erro original do Homem. Segundo eles, a Igreja tem como função ajudar os pobres, como qualquer ONG. A nossa função é acabar com a pobreza e com a miséria! Vê-se aqui a vertigem orgulhosa da Queda Primordial, na qual o Homem só pensa no Poder. As suas intenções são boas, mas o Homem pensa que o dinheiro, a estrutura social, a economia, a política podem moldar o mundo à sua própria imagem e semelhança. "Só de Pão vive o Homem", dizem. E se é assim, onde fica a Palavra de Deus?
Deste modo, o Homem pode prescindir de Deus. Pode substitui-Lo pelas coisas materiais, que são imagem e semelhança do Homem.

O Homem encerra-se na sua própria imagem e semelhança e confunde-a com Deus. O Homem confunde-se a si próprio com Deus. É aquele "desejo humano" insensato, elevado à categoria de alucinação.
É por isso que, quando a Igreja diz algo que vai contra a opinião do Homem, este diz que "Deus é misericordioso e não se importará que eu faça isto ou aquilo". Porquê? Porque o meu deus pensa da mesma forma que eu! Eu sou o meu deus!

Também é por isso que, quando a Igreja denuncia o pecado, o Homem se zanga! Porque a Igreja está a cometer uma heresia contra o deus do Homem: Ele próprio.

Mas a questão é que esta é a verdadeira missão da Igreja: perseguir o pecado. O pecado é a negação de Deus. O pecado é o afastamento da vontade humana da vontade divina. O pecado é o Homem perder-se a si próprio.

Mesmo quando a Igreja tem acções sociais ou humanitárias (que são extremamente importantes e eu não o nego), o seu principal objectivo é a santificação dos intervenientes (sejam os ajudantes como os ajudados, porque todos precisam da ajuda de Deus). Afinal de contas, "caridade" vem de cáritas, que significa Amor, o qual é Deus.

Nesse sentido, o que o irmão Roger quis dizer foi isto: a fé deseja exaltar o desejo humano. Mas este desejo humano não é aquilo que nós, na nossa ilusão humana, consideramos como "desejo humano". O desejo humano é o desejo de Deus. A Humanidade é a sede de Deus.

"A minha alma não terá paz até que volte a repousar no seio do meu Senhor"
S. Agostinho

Tudo o mais é efémero e nunca poderá satisfazer o Homem.

Anónimo disse...

Tambem já cheguei a essa conclusao.
Para mim Deus é como minha mãe,me dizia quando era criança:
É um mistério que não podemos perceber...mas que devemos aceitar e acreditar!!Acho que o Pedro deveria abrir um blogue.Mais uma vez.Obrigada**

sofia disse...

Margarida, já tou como o Kephas! Ups... Realmente não entendi que me estavas a mandar beijinhos... Olha, quanto à Catequese de Adultos, na próxima quinta-feira será a última antes das férias... Deve recomeçar lá para outubro, eu depois aviso!
**** pra ti!

sofia disse...

Kephas, que profunda, mas ao mesmo tempo, que bela reflexão deixaste aqui...
Não sei se de futuro darás um bom médico, mas sei que darias um excelente teólogo.
Obrigada por enriqueceres este blog com os teus textos.
Abraços

Anónimo disse...

ola Sofia!!Hoje pensei que publicasses alguma coisa especial.
Fui assistir a uma comunhao solene hoje,senti que elas crianças nao tem noçao do significado de tal sacramento...fiquei muito feliz!!comam deste pao e deste vinho..lalla la o corpo do Senhor.
Comentando o tema,antes de frequentar enfermagem estava na FLP em filosofia.Encontrei nela e neles filosofos Deus e Deuses,entre outros pensamentos mas hoje na Ciencia encontro de uma forma diferente Deus.Não sabia que o Kephas estuda medicina...penso que são os Homens que a descobrem mas não nunca na totalidade...ser medico na minha prespectiva é algo muito profundo,de uma responsabilidade elevada em todos os sentidos...tenho muita dificuldade em perceber como o Homem pode obter tanto conhecimento...atraves de disciplinas como anatomia e fisiologia principalmente a parte dos sistema cardiovascular ....é duma complexidade que acho que ninguem imagina tal criaçao...é tao perfeito...que eu nao percebo tudo é dificil mas é aí que surge em mim um respeito profundo...**

sofia disse...

Margarida, passei aqui muito rapidamente para te dizer que ando sem tempo para o blog, passo por aqui só para ver os comentários e pouco mais.
Prometo que vou tentar tirar tempo pra vir cá mais vezes.
Bjs

Alma peregrina disse...

Cara Margarida:

De facto, estudar a anatomia e a fisiologia demonstra a beleza da nossa criação, mas não há anatomia ou fisiologia que se compare à beleza da alma, aquele componente da humanidade tão esquecido.

E conhecer a alma humana é muito mais complexo do que conhecer o sistema cardiovascular...

De qualquer das formas, tens razão. Ser médico é de uma grande responsabilidade. Às vezes penso que não vou ser capaz. Ainda bem que Deus está comigo, se eu Lhe pedir...

O pior é que, muitas das doenças do nosso século não são do corpo. E algumas dessas doenças que infestam a nossa alma são, precisamente, iatrogénicas.
:(

Abraços, com muitos **** e muitos ##### e, eventualmente, alguns %%%% (desculpa lá, estou só a gozar XD )