quinta-feira, 22 de maio de 2008

Muita Fantasia

Em dia de Corpo de Deus, tão escolhido para Primeiras Comunhões e Casamentos, deixo um poema que me faz reflectir...


MUITA FANTASIA

Agora o que se está a ver

Na nossa religião:

Recebem-se os sacramentos

Por medo do que dirão

Os baptizados são feitos

Por hábito e tradição,

Poucos vão perseverar

No juramento cristão.

As primeiras comunhões

Correm no mesmo sentido:

A atenção está posta

Nas fotos e no vestido.

Casamentos. O que acontece?

Depois desta ocasião

É raro vê-los na igreja

Em cada celebração.

Falta a graça de Deus,

Há faltas de entendimento

E depois vem o divórcio

Esquecendo o juramento.

Fora com a indiferença

Meditemos sem cessar,

Há responsabilidade

Perante Deus, no altar.

É, pois, urgente pensar

No exposto que aqui está;

Não seremos nós culpados

Do que vier amanhã?

“Voz de Fragoso”, n.º145, Urze da Serra

5 comentários:

Anónimo disse...

Existe hoje uma depravação desenfreada que antinge aspectos VERDADEIRAMENTE ignominosos.Como é possível,penso eu.
Quando afirmo que gostava de conhecer pessoas de fé feita,quero exprimir o desejo de conhecer alguem que faz obras realmente belas e dignas de fé.Que sejam capazesde transformar o chumbo pedra morte corpo em Ouro vida eterna alma sei lá alquimistas...loucura minha,presunçao?penso.só sei k nada sei.

Alma peregrina disse...

Uau Sofia!

A propósito daquela frase que eu disse no post passado... é que eu hoje estava pensando exactamente a mesma coisa!

Mas talvez isto das cerimónias tenha o seu sentido... afinal de contas, as pessoas precisam de acontecimentos estruturantes nas suas vidas. Além disso, a graça que se recebe nesses sacramentos poderá fazer a diferença.

Como eu, não estava em perfeita comunhão com Cristo até há pouco tempo... mas a verdade é que o Baptismo, a Primeira Comunhão, o Crisma se tornaram etapas nas quais fui construindo a minha fé (que permanece, como já disse, inacabada).

Nesse sentido, tal como Deus nos dá tudo em superabundância, também a Igreja deve dar estes sacramentos em superabundância. Tal como Deus dá a graça e cabe ao Homem aceita-la, o mesmo se passa com o significado dos sacramentos.

É claro que é preciso avisar as pessoas sobre a verdadeira essência das cerimónias. E que atender a essas cerimónias apenas pelo aspecto vistoso e superficial é profundamente errado. Um pouco como os judeus fizeram com a Lei.

No entanto, é preferível evangelizar do que julgar, penso eu. Tornar mais acessível o significado de todas estas cerimónias. Quem puder aceite. Quem achar que não, não aceite. Será Deus Quem vai julgar. A nós, só nos cabe corrigir o nosso irmão (o que é, de facto, feito, neste texto, embora de forma insuficiente).

Hoje estou a sentir-me bem. Porque faço parte do Corpo de Cristo.

Alma peregrina disse...

Cara Margarida (penso que serás tu, senão perdoa-me):

Concordo contigo em tudo. Mas gostaria de saber o que entendes por "conhecer alguém que faz obras realmente belas e dignas de fé".

No sentido mais visível do termo, essas pessoas são, de facto, muito poucas. Escassíssimas mesmo, como a Beata Madre Teresa de Calcutá.

Há situações de vida absolutamente incríveis, vocações absolutamente titâncias, missões que deixam qualquer céptico boquiaberto e enternecido. Por exemplo, tantos missionários que vão para aqueles confins de África onde não há sequer água potável, apenas para prestarem auxílio desinteressadamente. Eu envergonho-me profundamente na sombra dessas pessoas.

No entanto, talvez estas "obras" de que falas, possam ser coisas bem mais humildes e quase imperceptíveis. Veja-se Mc 12:41-43. Neste sentido, os "santos" continuam escassos, mas talvez a Glória de Deus esteja mais preservada neles.

Recordo que Ele é o Ser Eterno e Perfeito, Ele é o próprio Ser. Ele que é Ele (ou antes, Ele que é) encarnou na forma da Sua criatura. Criatura essa que é infinitamente tão inferior a Ele como infinitamente amada por Ele. Ele, tendo encarnado, fê-lo no canto mais pobre de um grande Império, nasceu num estábulo, fez-se um humilde carpinteiro de uma modesta aldeia, lavou os pés dos Seus próprios discípulos e, por fim, foi crucificado por aqueles que podia facilmente ter fulminado com o Seu olhar.

Não teria Ele passado despercebido, diante dos nossos conceitos rudes e toscos de grandeza?

Veja-se 1Rs 19:11-13.
Ou então aquele belo conto do "Suave Milagre" de Eça de Queiroz.
Para mim, retratam mais a Santidade de Deus do que os milagres de Jesus ou a Travessia do Mar Vermelho.

Quem sabe quantas obras profundas de santidade não passam despercebidas? Quem sabe com quantos santos e santas tu já te cruzaste, sem te dares conta?



Transformar o Mundo é fácil. Que o digam as Utopias do séc. XX. Mas o que essas utopias desconheciam é que não adianta nada modificar a nossa estrutura social, económica, política e até mesmo moral, se não modificarmos a nossa estrutura espiritual.

Eis a verdadeira Alquimia!

Não é transformar o Chumbo da Terra em Ouro. Os reinos da Terra pertencem a outrém (Lc 4:5-7). Porque são grandiosos aos olhos do Homem, e não aos olhos de Deus.

Mas transformar o Chumbo do nosso próprio coração em Ouro de Santidade, aí está o busílis. Se todos nós o conseguíssemos, todas as "obras" prodigiosas e grandiosas surgiriam por acréscimo.

E, no entanto, ao desempenharmos esta ignota alquimia, ainda que seja somente em nós próprios, já estamos a mudar o mundo. Não é cada humano, porventura, um mundo?

Infelizmente, é uma alquimia difícil de realizar. Porque nesta alquimia, eu não sou o alquimista, sou a própria pedra filosofal.

É Deus Quem converte os corações de Chumbo em Ouro. Ele fá-lo pela graça. E Ele dá-nos graça em superabundância. Ou seja, Ele dá A CADA UM graça suficiente para que se convertam TODOS os corações do planeta.

Infelizmente, neste processo mágico e belo, há um obstáculo.

Eu.

Sim, a minha própria natureza corrompida, o meu egoísmo, o meu pecado, a minha queda. É isso que me impede de transformar o chumbo em ouro. De facto, isto tem-me levado várias vezes ao desespero. Todavia, eu não desisto. Porque o meu papel não é o de alquimista, mas o de pedra filosofal.

A única "obra" que é necessária para mudar o (meu) mundo, é entregar-me a Deus, para que Ele me transforme. A partir desse momento, Ele é que passa a transformar o Mundo, através de mim.

É por isso que este feriado do Corpo de Cristo é tão importante. De facto, é através da pertença ao Seu Corpo que eu, um insignificante e incorrigível pecador, posso, de facto, pertencer a essa Alquimia de que falas!

Esses Homens e Mulheres de fé feita, que tu dizes procurar, não existem. Eles não conseguem desencadear a Alquimia. Também eles são meras pedras filosofais. O que tu procuras... é Cristo.

De facto, eu não sou aquele que tu procuras. E, penso, ninguém o será. No entanto, posso oferecer-te um presente muito mais humilde (e que, por ser humilde, poderá conter uma centelha de divindade): a minha amizade. Sempre que quiseres e que me encontrares, estou disposto a falar contigo. E tenho a certeza que muitas pessoas neste blog também. E muitas outras pessoas pela tua vida fora. Não percas a esperança!

Quanto a essa "loucura" de encontrar a Suprema Alquimia do Universo, é, de facto, uma loucura. E depois? Bendita loucura!
1Cor 3:18-19

Abraços!

Anónimo disse...

Kephas acabo de ler o conto Suave Milagre...e nao entendi o final.
A criança desejava ver Jesus.
Ele apareceu.A criança morreu?Convido-vos a aparecer no CAB em Braga,todas as quintas á noite temos chazinho e bolachas,e prestamos todo o apoio ao peregrino de Santiago.Voces podiam aparecer e podiamos fazer etapas do Caminho Todos juntos.E assim falariamos sem escrever.Que dizem?**Margarida Geraldes

Alma peregrina disse...

Cara Margarida:

Não te esforçes tanto. O final do conto é muito mais simples e belo.

O menino estava doente. A mãe era pobre (se bem me lembro, era viúva). Apesar disso, o único desejo do menino era poder ver Jesus. O "milagre" está simplesmente no facto de, apesar de Jesus ser Deus, bastar a este menino desejar vê-Lo, para Ele aparecer.

É este o "suave milagre". Cristo "está aqui" para todos.



Quanto ao convite, agradeço-te bastante, mas tenho de declinar. Por agora. Estou numa fase muito complicada da minha vida e estas conversas de blog são praticamente os meus únicos tempos livres. Todavia, se achares bem, numa altura mais favorável poderei de facto aceder.

Como eu já referi à Sofia, eu descobri a totalidade do Cristianismo/Catolicismo apenas muito recentemente. E a forma pela qual eu me tenho aproximado foi pelo estudo teórico (uma espécie de auto-catequese). Tal não me chega, claro, quero passar à acção! Infelizmente, essa descoberta calhou mesmo nesta altura em que estou a decidir todo o meu futuro. E em que a minha própria família atravessa um período de grandes adaptações, incluindo uma perda recente.

Sinto-me triste. Ás vezes sinto-me inútil, pequeno, trapalhão e desesperado. Ainda não consegui ultrapassar totalmente a culpa dos meus pecados passados (apesar de saber que Deus já mos perdoou).

Mas não vou desistir. Penso que as coisas vão melhorar. Se Deus me ajudar.

Por favor, não desistas também. Mantém-te fiel e atenta à santidade em teu redor, que pode ser tão insignificante quanto majestosa. E tenta alegrar-te com este simples conceito: há Cristo em cada um de nós. Basta que o desejemos, como o menino.

Apenas peço que não fiques a pensar mal de mim. Acredita, se eu pudesse, eu iria! Nem sabes como preciso de começar a conviver com pessoas mais semelhantes a mim...

Abraços.