Consta que há muitos anos numa aldeia, havia um mago que lá ia de tempos a tempos para ensinar, o que achasse importante, aquelas gentes. Naquele ano, como em todos os outros, a sua chegada era aguardada por todos com ansiedade e surpresa. Muitos enfeitavam já as suas casas para a ocasião inesperada de o receberem. A felicidade, a ansiedade e a surpresa decoravam aquela aldeia. Ora, depois de acolhido, o sábio disse que lhes ia propor um jogo muito simples. Este jogo consistia no seguinte:
“cada um de vós receberá um destes gigantescos sacos vazios, que são para encher de maçãs. Quando eu assobiar, todos pegam nos seus respectivos sacos, com as maçãs que têm e depositam-nas no chão, separado dos outros, para eu ver quem encheu mais” – disse o sábio, alisando a sua sábia barba austera e comprida.
Todos acharam este desafio extremamente simples. Começaram a subir a todas as macieiras daquela zona, corriam para ver quem trazia o maior número de maçãs para encher o seu saco. Ora, o pequeno Lucas não foi logo a correr, embora todos o incentivassem a ir. Ele não achava que aquilo seria assim tão fácil e “pensabudo” fitava o saco com dúvidas. Pensou. Apalpou o saco de serapilheira. Os seus olhos iluminaram-se com cores de ideia, pegou no saco e correu para casa. A algazarra, as corridas em busca de mais maçãs continuavam. Jeremias já discutia com a sua mulher Sara (“Já te disse para apanhares essas maçãs”), o velho Zé pediu ao neto para ir buscar um escadote (“Já não tenho idade para subir a macieiras. Que diabo!”), Simão acusava o António de lhe ter roubado umas quantas maçãs… contudo a demanda continuava. Enquanto isso se passava, o pequeno Lucas era olhado com desprezo por aqueles que, ao trazerem imensas maçãs, pensavam “enfim, crianças”! O velho sábio fitava sabiamente o pequeno. Finalmente Lucas trouxera de novo o saco. Fora então buscar maçãs, quando já todos tinham os sacos quase cheios.- Só vens buscar maçãs agora Lucas? Ele sorriu. Encheu as suas duas pequenas mãos com duas pequenas maçãs que estavam no chão. Correu para o seu saco e lá as pôs. Quando acabou de as pôr no seu saco, o sábio assobiou. Todos pegaram nos seus sacos que estavam no chão. Contudo, ao levantarem para os porem às costas, todas as maçãs apanhadas caíram por terra. Os sacos que o sábio dera não tinham o fundo cozido.Só Lucas seguiu, pegou no saco e poisou as maças no local indicado, sob olhares boquiabertos. Muitos tinham apanhado milhares de maçãs naquela meia hora… Lucas tinha duas! O mago levantou-se da sua sábia cadeira, e apontando para a criança com o seu sapiente cajado disse:
- Não vos preocupeis tanto com o muito fazer, mas sim com o saber e conhecer aquilo que quereis fazer.
- Não vos preocupeis tanto com o muito fazer, mas sim com o saber e conhecer aquilo que quereis fazer.
Tantas vezes queremos fazer, receber e dar tanto por Deus, e esquecemo-nos completamente do momento silencioso e escondido em que, ao rezarmos, cosemos o fundo dos nossos sacos de serapilheira que servirão de amparo para o muito ou pouco que fazemos. Sem oração, sem relação com o Senhor onde iremos nós? Sem oração toda a entrega se poderá tornar numa profissionalização de boas acções. Com Deus, com o nosso coração tudo se poderá tornar em amor. Sem oração o muito e o pouco são nada, com oração o pouco faz-se muito e o muito torna-se pouco perante “tanto bem recebido”.
“Senhor, ensina-me a rezar!”
1 comentário:
Muito bom o texto. Excelente mensagem!
Que o Senhor nos dê a cada dia o discernimento para nossos atos.
Abraço em Cristo!
Enviar um comentário