Hoje, é um dia muitíssimo especial, pelo que, excepcionalmente, apenas vou publicar um texto. É um testemunho, o meu, um pouco extenso, concordo, mas muito importante para mim...
A mentalidade da sociedade em que vivemos actualmente, em que vigora o prazer imediato, atribui muitas vezes (para não dizer sempre) à expressão «primeira vez» o significado de experiência sexual.
Embora não esteja de acordo com essa mentalidade agora tão em voga, penso que me será permitida a ousadia de contar a história de uma «primeira vez», a minha:
O nosso primeiro “encontro” deu-se quando eu tinha 9 anos. Estava nervosa. Já me tinham falado muito sobre Ele, tive alguma preparação, e como é óbvio, tinha curiosidade em saber como seria. No entanto, e muito honestamente, não me recordo como correu.
Depois disso, o tempo foi passando e, apesar de se repetirem os “encontros” semanais (se bem que estes muito mais informais que o primeiro), o que é certo é que aquelas visitas já me começavam a chatear. Achava-O, sujo, mal vestido, começava a perder a vontade de O ver e de certa forma, a ter medo d’Ele (diziam-me que se não me comportasse desta ou daquela forma, Ele me castigava). Contudo, via-me forçada a comparecer aos “encontros”, não fosse Ele decidir castigar-me por tal rebeldia. Fui obedecendo, mas sem nunca me render: Ele tinha-me à força, mas não tinha o meu coração!
A situação foi avançando, assim como avançaram os anos, até que cheguei à última etapa da Iniciação nos “encontros” formais, que aconteceu no dia 26 de Setembro de 2004. Relativamente a ela, ouvia várias pessoas a afirmarem que passada essa etapa, ficava tudo «arrumado», não seriamos «obrigados» a «fazer» mais nada, a cumprir nenhum preceito formal… Não me identifiquei com esse comentário, talvez consequência de uma maior maturidade (já estava mais crescida, tinha 20 anos), tanto mais que o medo daquela figura antipática, suja e mal vestida, já ia desaparecendo. Começava até a aventurar-me num novo tipo de diálogo com Ele, este mais pessoal, em que o discurso era formado por palavras minhas, que não tivessem sido “criadas”pelos outros, nem estivessem estabelecidas segundo um esquema e uma ordem ao qual se teria de obedecer. Afinal Ele também deveria ouvir as minhas, não? Admito que a partir dessa altura e de uma forma gradual, comecei a compreender melhor algumas das Suas lógicas e, talvez consequência dessa caminhada que retomava, comecei a “libertar” o meu coração: já não me sentia tão obrigada (no sentido negativo da palavra) a visitá-LO.
Até que chega aquele que considero o dia da minha «primeira vez», do meu «verdadeiro» primeiro encontro com Ele (digo do meu, pois Ele sempre esteve comigo, eu é que não o sabia), quando me foi indicado o caminho que realmente me levava até Ele. Foi a 9 de Fevereiro de 2006 (faz hoje exactamente 2 anos): nesse dia tive a difícil tarefa de falar com um Seu amigo e representante, cuja função consistia em fazê-lO chegar à comunidade e levar a comunidade até Ele. Eu estava nervosa, não era para menos: o Seu amigo, que até então eu não conhecia, era alto, encorpado, uma figura que impunha respeito e eu, tímida, frágil, sentia-me ainda mais pequenina perante toda aquela situação. Posso dizer que, apesar de necessária, a conversa que tive com o Seu amigo (que foi muito amável comigo) foi muito difícil para mim - parece que com Ele temos de aprender que é nas dificuldades que verdadeiramente crescemos - mas igualmente importante, pois foi ela que deu inicio a uma verdadeira reviravolta, uma vez que me foi dado a conhecer um novo caminho para uma nova realidade: afinal Aquele que eu julgava conhecer, não tinha má aparência, nem era tão mau como se dizia: as suas «regras» e «imposições», não eram para me castigar, mas sim para tentar evitar as minhas quedas e levantar-me quando eu, por teimosia, caísse. Afinal Ele queria a minha felicidade, Ele era bom. Mas que prodígio…
A partir daí e à medida de O ia vendo com maior regularidade, comecei a notar que as Suas vestes se estavam a tornar muito brancas, tão brancas que me «encantaram», tornando-me sua «prisioneira» ao ponto de sentir a necessidade de O começar a visitar todos os dias. Eu, que só O procurava uma vez por semana, sem vontade, fiquei como que «obrigada» a O encontrar todos os dias, só assim me sentia bem, não conseguia passar ao lado, indiferente, já não conseguia viver sem isso. No entanto ficava-me uma questão: porque é que Ele andava todo sujo e tão mal vestido, se agora estava tão bonito? Foi então que entendi que não tinha sido ELE a mudar a aparência, a mudança estava a realizar-se em mim, EU é que comecei a vê-LO de forma diferente. Esta foi e tem sido a minha grande descoberta: afinal Ele é BELO e a sua Beleza vem de algo chamado Amor, o Amor que Ele tem por mim, por todos nós! E Ele é novidade constante e permanente, não Se extingue nem fatiga: mesmo agora, quando mergulho no Seu mistério e (ingenuamente) penso já conhecer tudo sobre Ele, o Seu máximo, Ele me mostra que o que para nós é máximo, para Ele é mínimo, é que a sua medida é o infinito…
No final de tudo, tiro uma conclusão: muitas vezes, o vinho pode ser muito bom, mas se o servimos em copos sujos, corremos o risco de o depreciarmos. Saibamos escolher, não só o vinho, como também os copos…
PS: a Eucaristia de Domingo, é de Acção de Graças e quanto tenho eu para agradecer…
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